sábado, 9 de março de 2013

Meu Professor...

Que surpresa extraordinária ao revê-lo em Van Dame, depois de tantos anos afastado do belo e harmônico convívio que tinham os alunos e  os professores, no sempre lembrado Pio X.
Demos um abraço apertado e sincero e você, sempre com a gentileza que marca os seus atos, disse-me que havia concedido uma entrevista recentemente e, nela, feito referências a mim, como um aluno que conquistara algum prestígio com o trabalho exercido, presenteando-me com um DVD contendo seu recente trabalho, e uma dedicatória emocionante.
Olhe, Bira, eu não tinha noção da atividade que você desenvolvia e, ao reproduzir o seu show no meu carro, senti, de cara, a qualidade do seu trabalho, não só pelos autores letras e das músicas, mas pela INTERPRETAÇÃO que você emprestou ao cantá-las. Confesso que já ouvi e vi o seu trabalho várias vezes. Ontem mesmo, ao ir a Catolé do Rocha para participar de audiência criminal, o seu DVD tocou umas três vezes, sempre me emocionando.Não esqueço, aliás decorei o verso de Bebé de Natércio, onde você diz assim, se não me engano: A gente aperreia mãe, às vezes ela se enjoa. Dá um tabefe na gente, que chega a cabeleira voa. Mas mesmo que deixe um aleijo, é melhor do que um beijo dado por outra pessoa!
Virei seu fã, de verdade.
Não sei se virei fã de um “trifúcio e farnezim”, mas virei!!!
Aliás, não sei nem o que significa isso. Se for bom, você faz jus. Se não prestar, pode devolver que, de você, eu recebo sem problema…
Aí eu pensei: de onde ele tirou a inspiração prá fazer um show daqueles, parecendo um Jackson do Pandeiro nas suas “infinitisses”, dizendo estar preparado para tudo, forró, xote, samba de breque e samba de latada (o que diabos é isso?)?
Pesquisei no Google e vi que você nasceu em Moxotó, aí entendi porque entoa de forma marcante a palavra, dizendo MOOXOOTÓÓ, arrastando mais ainda o nosso belo sotaque.
Vi que em Moxotó há o período das chuvas, compreendido entre janeiro e março, onde o rio recebe águas, transborda e leva a vida para toda a microrregião, para a terra fértil pela própria composição natural e pelo húmus de disposição para o trabalho dos filhos, um povo repleto de orgulho do torrão em que nasceu.
Não conheço a sua terra, mas imaginei ali a passarada a “arcoirizar” os céus, trazida pelo cheiro de vida que entorpece de vitalidade e esperança, diferentemente de outras plagas onde os pássaros a seca comeu, ou restam apenas os remanescentes sem canto pelo desencanto dos campos que se encantaram e não mais têm o calor e harmonia das grandes alvoradas de outrora.
Imaginei a viola, o bordão e a cabeça do velho violeiro em versos dolentes, em canções que retratam o resplendor de uma das mais viçosas terra do sertão, exprimindo, talvez, a saudade dos tempos virtuosos  em que a “mulher nova, bonita e carinhosa”, cantada por Otacílio Batista, acelerava seu ritmo cardíaco embaixo de uma algarobeira, sob a luz do luar, na destreza lúdica da sua mocidade…
Talvez seja este o embalo daquela terra: sua gente, sua energia, sua aura, um sopro de vida que inunda a alma e pulmões de tantos quantos por lá tenham o privilégio de, pelo menos, passar fagueiramente para espiar as virtudes, como quem não quer nada, para não deixar à mostra um resquiciozinho de inveja do povo ali concebido, querendo tudo.
Há os que olham.  Há os que vêem.  Felizes os segundos que têm a sensibilidade necessária para apreensão das circunstâncias da vida e para, em identificando-as, com elas entrar em sintonia a fim de não perder o curso natural e harmônico da existência, que, afinal de contas, é curta e deve ser vivida, e bem vivida, intensamente.
Repito: não conheço a sua terra, mas conheço você, razão pela qual acho que não errei nas impressões que tenho dela, obtidas em uma viagem captadas na boléia da sua obra.
Parabéns do admirador, aluno e amigo Abraão Beltrão.

10 comentários:

  1. Wellington Regadas disse:
    02/04/2012 às 3:15
    Bira, com sua benção!
    São depoimentos como esse, do hoje grande causídico Abraão Beltrão, por exemplo, que trazem a verdadeira riqueza ao artista. Sua realização foi consumada pelo toque dado a ele, quando, sensibilizado pela poesia, muito bem interpretada por você, consegue o retorno emocional que a poucos é concedido. Esse dom, aliás, dado por DEUS, converte-se em algo transcendente – inexplicável até – principalmente quando se plasma em ocasiões como essa, a qual está bem resumida no dizer do nosso maestro, Heitor Villa Lobos: “A música se comunica de coração a coração. Os pássaros se comunicam pela música. O coração é o metrônomo da vida”. Sinto-me feliz, por oportuno, em ter dado minha pequena parcela de contribuição ao referido projeto.
    Continuo as ordens!!!! Deus te abençoe!
    Do seu acólito
    wellington regadas

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  2. José Ubiratan disse:
    02/04/2012 às 7:06
    Já que se falou em tomar a liberdade, peço licença para dizer algo sobre a minha impressão inicial ao ler o texto tocante de Abraão.

    De pronto, entendo ser o máximo para um professor já retirado do ofício, como é seu caso, Bira, ter o reconhecimento por parte de um seu ex-aluno.

    Ainda mais quando ocorre que a relação mestre / aluno no passar do tempo, antes vertical em essência, evolui e se torna horizontal. Esta mudança como que mágica foi certamente impulsionada não apenas pela força da amizade selada entre ambos mas sobretudo pela identificação em partilhar a mesma visão de mundo, gostos, a paixão pela beleza, enfim, a mesma sensibilidade para apreciar um bem cultural tão genuíno.

    Daqui, ao encerrar estas pequenas impressões, deixo minhas congratulações a ambos: Bira, pelo engajamento no belo trabalho que desenvolve; e Abraão, a quem não conhecia, por ter tido a sensibilidade, diga-se, menos de aluno mas de mestre feito na vida, para captar o essencial na obra do seu velho professor e expressá-la com arte no excelente texto que fomos presenteados.

    Então, obrigado aos dois.

    Ubiratan

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  3. Chico de Pombal disse:
    02/04/2012 às 8:41
    Olá Bira,

    Belo texto esse de Abraão, faz justiça a você meu amigo.Pararabéns ao Diáriopb E vamos forrozar!

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  4. Thiago Chacon Delgado disse:
    02/04/2012 às 9:47
    Oi pai, muito bonito mesmo o texto do Prof. Abraão Beltrão, rico em duas coisas muito importantes em qualquer escrita que toca: sinceridade e coesão textual.

    Referendo todas as palavras já ditas por ele, apenas ressalvando que se ele é o fã nº 01, eu sou o nº 00.

    Abraços do filho, Thiago Chacon Delgado

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  5. admin disse:
    02/04/2012 às 13:38
    Bira, eu nem sei o que falar diante de tantos depoimentos tao sinceros e emocionante, você tá colhendo o que realmente plantou, entao, só me resta ser sua fã N 002.

    abraço

    Larissa Machado

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  6. admin disse:
    02/04/2012 às 13:47
    Amigos.
    Não me surpreenderam as palavras do antigo discípulo de Bira, o Abraão.
    Conheci Bira quando ele era muito jovem. Jovem já com as características de um grande educador. Terno, cativante, preocupado com seus educandos, participativo, amigo.
    Depois, ,por quase 7 anos, fui seu diretor. Era um dos meus braços direitos. sempre presente, sem ser bajulador. Ao contrário. Quando eu errava, ele estava lá para, com extrema sensibilidade, me apontar o erro.
    Formado inicialmente em Educação Física, além de gostar de esportes e promovê-los, era amante das artes, sobretudo amante de nossas raizes, da música que toca no nosso inconsciente coletivo e nos faz vibrar.
    Amigo dos meus amigos de artes, entre eles Abelardo da Hora e Ariano Suassuna, Bira, com seu jeito bem nordesntino e sua sensibilidade aflorante que só ele sabe usar, muitas vêzes foi a ponte para eu falar com meu amigo Ariano, com o tempo muito mais próximo do Mestre Ariano do que eu. E eu vibrava com estas conquistas dele. Ariano o tem em elevada conta.
    Sofri com seus sofrimentos, me alegrei com suas vitórias, que são muitas e , agora, perenes.
    Se Bira não existisse e entrasse em minha vida, necessitaria urgentemente ser inventado.
    Com estima, seu admirador, irmão e amigo, Eduardo D’Amorim.

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  7. Lúcia França disse:
    02/04/2012 às 13:59
    Olá Bira e Abraão,

    Boa Noite,

    Parabéns Bira pela vida e obra, e, sobretudo por uma simplicidade que só um sábio tem!!

    Parabéns Abraão por tão belo texto, justo e que faz um professor entender que vale a pena o ofício de educar.

    Lúcia França
    Curadora Geral
    Estação Cabo Branco, Ciencia Cultura e Artes

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  8. admin disse:
    03/04/2012 às 5:48
    Meu querido professor e amigo Bira Delgado,

    Realmente belíssimo texto do colega Abrãão Beltrão.
    Ele descreveu, de forma PERFEITA, a intenção do seu DVD.
    Isso prova que o objetivo foi e está sendo alcançado e que todo esforço valeu a pena.
    Ele traduziu, no seu dizer, o que todos nós sentimos ao assistir esse ESPETÁCULO, parafraseando Dr. Lúcio Costa, meu amado genitor.
    Foram palavras, bastante acoroçoadoras, mormente merecedoras, dirigidas a um lutador da valorização da cultura nordestina.
    Em muitos momentos, cheguei a me emocionar, denunciado pelos meus olhos eivados de lágrimas, sobretudo porque sou do Cariri e fui testemunha ocular desse seu sonho, hoje concretizado.
    O velho Lula, nosso precursor, o cariri, o moxotó, o sertão, os lutadores da preservação de nosso cultura, te agradecem e reverenciam por essa obra de relevo.
    Parabéns! Siga em frente!
    Um abraço forte e cordial do seu fã, número 0.
    Eduardo Costa

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  9. admin disse:
    03/04/2012 às 18:45
    Conheço Bira desde os tempos em que fui seu aluno no Marista, e após muitos anos, nos reencontramos em razão de uma paixão em comum, que é a música, em especial a nossa música nordestina. Bira continua o mesmo, simples, humilde, educado e preocupado em ajudar as pessoas. E, desta feita, trasladando sua competência das salas de aula para os palcos!
    Érico Sátiro

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  10. CEZAR VENANCIO disse:
    21/05/2012 às 8:57
    Caro José Ubireval Delgado,
    Leio com olhos mareados os depoimentos de seus fãs, time no qual tenho escalçao de tituar. díficil garimpar palavras para adjetivá-lo, após verdadeiro ode composto pelo ínclito ABRAÃO, mormente depois, do não menos inspirado Tiaguinho referendá-lo; todavia com ousadia adquirida pela condição de aluno (não ex-aluno) e amigo, permito-me esta concessão.
    O dia 27 de outubro daquele ano (55) foi generoso com os que privam de seu convívio, talvez as águas a que Abraão mencionou, tenham irrigado seus dias e por isso voce vive a dar bons frutos, com por exemplo seu DVD.
    Paz, sucesso e saúde. Grande Abraço, seu fã -1 (Perdo-me Tiago.
    Cezar Venancio

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